Amargurado

Eu não vou mais fazer poesia. 

Minha socialização com as pessoas é para trazê-las luz e alegria. Mas também tenho meu lado amargo.

Meu lado amargo, quem convive comigo não verá. Como disse, quero trazer bem-estar com a minha companhia. Quero que minha companhia seja agradável. 

Toda a minha amargura vou deixar para este blog. É o meu "lado Rogério Skylab" que vai falar aqui: sem filtro e sem receio. 

Quero que minha companhia seja agradável, mas também não vou me autodestruir para isso. Fiz uma vez para nunca mais, e sempre que isso me passa pela cabeça, me lembro daquele ser demoníaco, que ainda vive, apesar dos seus excessos levarem à morte. Ora, hoje em dia já tenho minhas dúvidas se isso é real, no sentido psicanalítico. Quando eu falo disso, estou falando do meu real, não do real de outrem. Do meu real subjetivo. Talvez não fique claro para o leitor que não saiba do tema objetivo implícito, mas escrevo para me aliviar, não para deixar claro. Se o leitor achar esta forma de escrita banal ou artística, fica a critério. Enfim. 

Quando eu falo do meu real, estou falando também da realidade do simbólico criado no passado. É um monstro que adquiriu o rosto de um recorte temporal de uma pessoa, mas que agora se esfarela. Se esse monstro está vivo é porque estou vivo. Preciso lembrar disso. O foco sou eu, não a pessoa cujo rosto foi transfigurado no monstro. A pessoa ainda vive. Ainda faz suas coisas - como eu disse, apesar dos seus excessos. Não sei a quantas anda, não sei se, se tornou alguém melhor. Não sei se, se arrepende do que fez comigo. Nunca recebi pedido algum de desculpas. Mas para o que é o real, nada disso importa de verdade, porque o que me incomoda é o o monstro que vive dentro de mim. A pessoa que compartilha o rosto com o monstro já morreu faz tempo, e a pessoa que vive em seu lugar hoje, eu não sei quem é, e não tenho vontade alguma de saber. Olhar para a pessoa que vive hoje em seu lugar nunca será olhar para a pessoa que compartilha o rosto com o monstro. Foi um ser que deu origem a duas coisas distintas, e que não dependem uma da outra para sobreviver. E o ancestral está morto. 

O monstro que vive em mim é um parasita. Ele é um trauma. Ele sempre tenta me cutucar nos momentos amargos - exceto quando tomo café, que, apesar do sabor amargo, faz da minha vida mais doce. Esse monstro aí se alimentou da minha energia por anos. Felizmente, graças ao meu excelentíssimo, caríssimo e capacitadíssimo psicólogo, eu corto o alimento desse monstro, e um dia ele vai ser do tamanho de um rato. Diz-se que o melhor não é menosprezá-lo, mas fazer dele alguém com quem você converse e coloque limites. É estranho como esse tipo de relação se assemelha a uma relação humana comum, apesar de ser algo dentro do meu cérebro. 

Enfim. Eu nem lembro mais o porquê de eu ter começado a escrever isto. Não era pra ser um texto muito grande; já passou e muito do tamanho que eu imaginava escrever. E nem sei se foi tão amargo assim não. 


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